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Homenagem do mês: 90 anos de Maria Odete de Gois
Notícias
Publicado em 13/08/2023

VIVÊNCIAS E AMORES DE MARIA ODETE DE GOIS

No dia 26 de julho de 1933, no Sítio Fazendinha, pertencente aoPovoado Saco do Ribeiro, atual munícipio de Ribeirópolis (SE), há exatamente 90 anos, nascia uma menina que recebeu o nome de Maria Odete de Goiscarinhosamente chamada deDete, Odete ou Dona Dete

Pertencente a uma numerosa família agricultora, que tem como seu Pai José Pedro de Gois, conhecido como Zezé de Piduca, e sua Mãe Maria José Santiago, conhecida como Carmó, Maria Odete tinha seis irmãos e sete irmãs. Sendo seus irmãos: Valdemar (conhecido por Demar), Aloízio, José, Manoel, Antonio e Carlos (conhecido por Carlito). E suas irmãs: Maria, conhecida como Ía, Carmélia (chamada de Bela), Eliete, Marinete(apelidada por Dedeta), Cecília e Joseildes.

Na Fazendinha, Dete viveu a sua infância, onde experimentou as alegrias de conviver com os seus familiares, amigos e amigas da vizinhança, aprendeu e praticou as cantigas, as danças e as brincadeiras infantis que lhe introduziram na vivência social e cultural, imprimiram seus gostos e suas crenças. Vivenciou as dificuldades comuns e normais para as famílias camponesas de poucos recursos financeiros de seu tempo, mas também usufruiua grandeza de frutas disponibilizadas pela natureza. Curtiu as peripécias de correr sob as árvores frutíferas, de subir nas mangueiras, colher as melhores mangas-rosa, chupar as mais doces goiabas e comer os mais deliciosos genipapos! Ela recorda das festas sociais e religiosas que ia acompanhada de seu pai ou sua mãe.

 

Da fazendinha, Dete transferiu-se com a sua família para o sítio Massarandubana mesma região do Saco do Ribeiro, onde viveu até os seus doze ou treze anos. Pouco tempo depois, mais uma vez a sua família mudou-se. Agora, para o sítio Quixaba na então Boca da Mata, hoje, a querida Nossa Senhora da Glória. Na Quixaba, encontrou mais dificuldades com clima diferente. Ali não havia a diversidade de frutas do antigo habitat. No Sertão, a única fruta que havia era o umbu que só dá uma vez por ano. A vegetação sertaneja é bem diferente daquela existente no agreste.

Aos quinze anos de idade, vivendo na Quixaba Dete arrumou um namorinho com um menino que trabalhava com seu pai. Para levar Dete a esquecer do rapaz, seu Zezé e dona Carmó, sem combinar nem explicar nada, mandaram ela passar uma semana na casa de seus avós, no sítio Canário, vizinho à Terra Vermelha, no município de Itabaiana. Lá, Dete conheceu um rapaz chamado Antonio de Zeca que havia ficado viúvo há pouco tempo, estando bastante carente e querendo casar-se de novo. O seu avô se assustou e mandou a mocinha Dete de volta para a Quixaba.

Mas, o amor é coisa muito séria, e quando chega é difícil de ser impedido. Um mês depois que Dete foi mandada de volta para a Quixaba, Antonio decide ir encontra-la no sertão gloriense. E na madrugada de uma sexta-feira, ele coloca a sela numa burra e zarpa com destino ao sertão, pensando encontrar a moça que o tinha deixado apaixonado. No caminho ele pensava: será que vai dá certo meu Deus? Como os pais dela vão me receber? Será que ela ainda lembra de mim ou já esqueceu?

 

Quando chegou na casa de seu Zezé de Piduca que desceu da burra, Dete estava dentro de casa ao ver Antonio, os seus olhos brilharam e ele confirmou que ela também estava apaixonada. Seu Zezé logo perguntou qual era sua intenção e ele explicou tudo o que pretendia. Na mesma hora ele recebeu as devidas informações das regras e do regime da família, inclusive com relação a namoro. Antonio, ficou uns dias com a família. Durante o dia, ia para a roça com toda a família e assim ocorreu o período do namoro de Odete e Antonio. E nas idas e vindas da Terra Vermelha para a Quixaba, Antonio enfrentou chuva, tempestades, cheias e malassombros. O período total do namoro foi de aproximadamente onze meses, sendo que o encontro de ambos, se dava uma vez a cada mês. 

 

No dia vinte e dois de janeiro de mil, novecentos e cinquenta, aos dezessete anos de idade dona Odete casou-se na Igreja com Antonio de Zeca. Depois do casamento foram morar em terra própria no sítio erra Vermelha, no já mencionado município de Itabaiana. Ali viveu até o ano de mil, novecentos e sessenta e oito, onde nasceram nove filhos, sendo sete homens e duas mulheres: Maria, José Augusto, José Hamilton, José Anilson, Luzia, José Luiz, José Soares, José Valter e Josias. Na Terra Vermelha fez muitos amigos e amigas, dos quais poucos ainda estão vivos. 

 

Junto com o seu eterno esposo, Antonio de Zeca, que no sertão passou a ser chamado de Antonio do Agreste, dona Odete veio morar aqui na Aracuã. E neste pedaço de chão sagrado, Dona Odete e seu Antonio do Agreste viveram muitas alegrias, principalmente com o nascimento das últimas quatro filhas: Vera Lúcia, Ana, Vera Celma e Rosa Maria.

 

Ainda em Gloria, juntos, enfrentando as dificuldades, arranjar o pão de cada dia para toda a família. A produção agrícola nos tempos passados por essas bandas era muito difícil, pois ocorreram muitos períodos de seca que não se conseguia produzir nada, e para assegurar as necessidades básicas da família e suprir a alimentação dos animais, tiveram que recorrer que recorrer ao corte do mandacaru, do facheiro e da macambira. Como quase todas as mães do Sertão nordestino, dona Odete chorou despedida e viu muitos de seus filhos partirem para São Paulo, a busca de melhores condições de vida.

 

No ano de 1981, Dona Odete passou por momento de fragilidade na saúde, tendo-se submetido a procedimento cirúrgico que lhe fez recuperar a plena saúde e no mesmo ano, toda a família foi morar na praça da Liberdade em Nossa Senhora da Glória e todos os dias ia e vinha cuidar da lida do sítio.

 

Em mil, novecentos e oitenta e nove, juntamente com as filhas que ainda viviam em casa, mudou-se para Aracaju e lá dona Odete e seu Antonio do Agreste viveram aproximadamente onze anos na memorável rua Paraíba, no Siqueira Campos

 

Dessa família, nascem subsequente seus 34 netos: Norma Lúcia e Luciano; Gabriela e Gustavo; Fernando e Rafael; Frankelly e Franciele; Junior Gois; Samuel, Davi e Luiz Eduardo; Daniele, Douglas, Giovanna, Gabriela Abreu e Manuela; Rodrigo, Rafael, Vitoria e Vinícius; Franklin, Joao Paulo, Camila e João Vitor; Letícia, Lais e Paulo Cezar; Lucas e Matheus; Lívia, Luiz Antonio e Heitor e Ayla Sofia. Seus 14 bisnetos: Izadora, Glória Stefany, Lavinia, Emanuel, Lázaro, Julia, Marina, Pérola, Louyse, Sofie, João Lucas, Maitê, Pietro, Marianny, João Miguel, Miguel, Mikael, Eloisa e Ana Laura. Os trinetos: Cristian e Helena.

 

Uma terrível doença, acometeu o velho e inquieto guerreiro, num nublado e cinzento dia 26 do tenebroso mês de agosto de 1999. Seu esposo e parceiro de vida, Antonio do Agreste, entregou os pontos fez a sua Páscoa para sempre, deixando seus filhos e filhas chorosos e Dona Odete viúva e saudosa, não desalentada,pois sempre buscou em Deus o seu refúgio.

 

Em seus anos de viuvez, apesar da eterna saudade de seu amado esposo, Dona Odete que já contava com a constante presença de suas filhas que lhe auxiliaram na enfermidade de seu Antonio do Agreste. A partir de então, especialmente Ana, com o incansável Jorge e Rosa, configuraram-se diuturnamente nos rochedos inquebrantáveis que desde sempre dedicam seus tempos, suas vidas aos cuidados com Dona Odete. Nenhum tipode expressão de gratidão dos demais membros da família esgotam a entrega, a doação e dedicação de vocês, Ana, Rosa, Jorge e porque não dizer, Tiago que compreende a dedicação de Rosa para com a nossa querida Dona Odete. Nossos eternos e ilimitados reconhecimentos e gratidão! 

 

Referindo-se a Dona Odete pessoa, mãe, mulher, cidadã e política, festeira e religiosa, podemos afirmar com segurança que ela é diferenciada, senão vejamos:

 

Enquanto pessoa, ela é iluminada, humana, sensível, solidária de forma extremamente ímpar. Sua integridade lhe concede atributos pouco vistos no senso comum. Ela extrapola, supera a mesmice enfadonha e injusta que ainda perdura e é praticada na sociedade como regra geral nos tempos atuais.

 

Como mãe, Dona Odete merece ser descrita em letras maiúsculas e garrafais, pois a sua sabedoria, a sua justeza, a sua maneira de olhar, de tratar e cuidar de cada um e cada com equilíbrio e equidade, é sempre um ensinamento, não apenas para os seus filhos e filhas biológicos. É um testemunho e uma fonte de inspiração que pode e deve ser reverenciada por todas as mães do seu tempo. 

 

Olhando para ela enquanto mulher, salta aos olhos de todas as pessoas que a cercam, a sua altivez, independência liberdade,conquistadas a partir da sua experiência ao longo de seus 90 an0s de vida, carregados de significados. Mulher que não aceita a submissão, o machismo, o preconceito ou a discriminação. Ela entende a necessidade e o direito do empoderamento cada vez mais amplo das mulheres em todos os segmentos sociais. Acompanha, entende e defende a luta feminina em busca da igualdade de gênero para que a sociedade seja injusta e igualitária.

 

Dona Odete cidadã e política. Sem ter uma vida de vanguarda, em suas posições, afirmações e em suas atitudes nos pequenos espaços e círculos com quem convive,  expressa a convicção de quem não parou no tempo. Pelo contrário, entende e defende as causas politicamente mais atualizadas e em voga nos dias atuais.

 

Como amante e cuidadora das plantas e da natureza, defende a preservação e o cuidado com o meio ambiente. Posiciona-se em defesa da proteção dos animais. E por ser de origem camponesa, preocupa-se com as famílias que não têm onde plantar para tirar o seu sustento, o seu pão de cada dia.

 

A Dona Odete festeira, gosta de farrear, de reunir filhos e filhas, amigos e amigas para relembrar o passado e viver ou curtir o presente. Normalmente esses momentos de reunião, encontro ou conversas são regados ao bom vinho que alegra ainda mais as suas e as nossas risadas ou gaitadas. E é bom frisar, que quando ela vai para uma festa, seja religiosa ou social, não gosta de sair antes de acabar. Sempre fica até o final, só sai no pó!

 

No aspecto religioso, ela é de origem católica de raiz, porém, não tradicionalista, reacionária. Ela entende que o segmento e o amor ao mestre Jesus Cristo, não pode estar desvinculado do amor ao próximo, ao necessitado, ao injustiçado. Ela sintetiza o entendimento da fé em Cristo, a partir do que diz trecho do Evangelho segundo Mateus (Mt: 25, 35 -45): “Vinde benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era peregrino e me acolhestes, nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava na prisão e viestes a mim...”” Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”.

 

E daquela menina frágil, pequena, bonita e sapeca que nasceu em 1933, hoje celebramos os seus 90 anos de existência, e a Deus querer iremos juntos celebrar o seu centenário! Agradecemos imensamente a Deus a sua existência e lhe pedimos clemência e proteção a esse mundo tão deteriorado pela ação humana que constrói sistemas injustos que matam ou deixam morrer crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos simplesmente para assegurar o privilégio de poucos ou por questões de raças, políticas, religiões ou outros interesses ou preconceitos.

Parabéns Dona Odete, muitos e muitos anos de vida com saúde, sossego e paz!

 

José Luiz Gois

Filho e Professor de História

 

Rosa Maria de Gois

Filha e Administradora

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