No primeiro dia do giro do petista pelo Nordeste, manifestantes entram em confronto e juiz cancela entrega de título ao ex-presidente
SALVADOR - O primeiro dia da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira, 17, na Bahia, foi marcado por confronto entre manifestantes pró e contra o petista – policiais militares tiveram de fazer disparos de arma de fogo para conter o tumulto – e por uma decisão judicial que cancelou a entrega de título honoris causa ao ex-presidente.
Durante a visita de Lula a Salvador, apoiadores do petista e integrantes dos grupos Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua entraram em confronto na entrada da Arena Fonte Nova e a PM disparou três tiros. Ninguém ficou ferido.
Cerca de 20 manifestantes foram ao estádio, onde Lula participava do primeiro ato da caravana de 25 dias pelos nove Estados da Região Nordeste, para protestar contra o ex-presidente. Eles levaram o boneco inflável Pixuleco, que retrata o petista como presidiário e foi usado nas manifestações pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff.
Em número superior, apoiadores do petista presentes no ato avançaram sobre o grupo e rasgaram o boneco. Houve princípio de confusão e a PM, que fazia a segurança do evento, tentou apartar os manifestantes. Neste momento, um policial fez os disparos para cima.
Integrantes do Vem Pra Rua e do MBL acusaram o governo da Bahia, sob o comando do petista Rui Costa, de usar o aparato estatal para dar apoio à caravana. “Eles (petistas), com a máquina do Estado, trouxeram este monte de gente aqui”, disse o microempresário Claudio Junior, do Vem Pra Rua.
Já os apoiadores de Lula afirmaram que a prefeitura de Salvador, comandada por ACM Neto (DEM), incitou a manifestação contra o petista. “Isso aí é tudo gente do ACM Neto, mandados pela prefeitura”, disse o professor Adauto Teixeira, que usava uma camiseta do PT.
Antes da confusão na Fonte Nova, Lula foi recebido em uma estação do metrô de Salvador por militantes do PT, da CUT e de movimentos sociais. Acompanhado por Rui Costa, pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), por dirigentes petistas e parlamentares de partidos de esquerda, Lula foi de metrô até o Campo da Pólvora, próximo ao estádio. No caminho, a militância entoou gritos como “Brasil urgente, Lula presidente”.
Título. Também no primeiro dia de caravana do petista, a Justiça Federal deferiu liminar cancelando a entrega do título de doutor honoris causa ao ex-presidente concedido pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), criada na gestão do petista, em 2005. A homenagem estava marcada para esta sexta-feira, 18, em Cruz das Almas.
A decisão, do juiz Evandro Reis, da 10.ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia, ocorreu em resposta à ação popular movida pelo líder do DEM na Câmara Municipal de Salvador, vereador Alexandre Aleluia. O vereador apontou “uso eleitoral” da solenidade.
O magistrado observou, na decisão, “o fim político-eleitoral da outorga do título com vistas a propiciar manifestação ruidosa do réu Luiz Inácio Lula da Silva no local da entrega da homenagem ao coincidi-la com o evento onde ele está envolvido de visibilidade político-partidária”. O juiz determinou que a Polícia Federal esteja no local onde haveria o ato para garantir que a decisão seja cumprida.
Lula criticou a decisão. “Eu queria falar com este vereador, que eu não conheço, que ele tem o direito de não gostar de mim porque ele é do DEM. Eu também não gosto dele porque ele é do DEM. E não é por uma questão pessoal”, disse o petista. Segundo ele, seus adversários tentam criar empecilhos para a caravana “por medo do que nós ainda vamos fazer”.
A UFRB não se manifestou.
Ricardo Galhardo, ENVIADO ESPECIAL, O Estado de S.Paulo