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Raymundo Juliano Souto: “Tenho 80 anos de comércio e 80 anos de amizade”
Notícias
Publicado em 14/07/2019
“Jorge da radio” agradece ao único patrão que teve , que o ensinou como se trabalhar e ter destaque , dando a oportunidade de primeiro e único emprego do mesmo.

 

Em “Elogio da sombra”, uma das suas tantas publicações, o grande Jorge Luis Borges, escritor argentino, (1899-1986), faz uma fantástica apologia às virtudes da velhice no poema que empresta título ao livro.

Como exaustivo leitor de Borges, carrego na memória os quatros versos de abertura desse poema, por constituírem um belíssimo acalanto ao homem velho e apascentado, de bem consigo mesmo.

“A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão) / pode ser o tempo de nossa ventura. /
O animal morreu ou quase morreu. / Restam o homem e sua alma”, diz a abertura do poema. Sim, a idade mata no homem vivido o bicho que teima em pulular no centro do homem novo. Mas preserva, ou resgata, a essência dele.

Esse poema e seus versos inaugurais não me saíram da memória diante da figura, da imagem, das falas, das visões e da persona do homem de negócios Raymundo Juliano Souto dos Santos, entrevistado de hoje aqui do JLPolítica.

Sim, a visão de um grande escritor pode e deve servir à vida e à obra de um grande empresário, ao extrato da vida longa dele. Aos 87 anos, é como se o animal morresse ou quase morresse nas entranhas de Raymundo Juliano Souto dos Santos, e ali restassem “o homem e sua alma”.

Ouso dizer que restam em Raymundo Juliano Souto dos Santos um homem e uma alma leves, solenes. Sem remorso, sem queixas, plena de agradecimento, convencido de que passou bem por uma vida de 80 anos de trabalho sacada de um viver de 87 anos.

Sim, que não se estranhe essa conta, porque isso se faz a partir do momento em que, pilotando uma caixa de engraxar sapatos em sua Estância de origem, aos sete anos ele já empinava o nariz e procurava ser dono de si e do seu destino. Não por carências - o pai era um comerciante -, mas por obstinada missão de se fazer a si mesmo.

Veja como filosoficamente ele enquadra e define esse início. “O engraxate foi um menino que sempre teve vontade de ganhar dinheiro para ter uma vida independente. Porque a estrada normal das pessoas é a de não depender de ninguém, e sim a de trabalhar e vencer os obstáculos que existirem”, diz Raymundo.

Pronto: isso foi o que Raymundo Juliano Souto dos Santos fez com extrema maestria. Com demasiado rigor. Portanto, não foi sem causa que quando, há uns 15 anos, ele decidiu separar em cada cesta os ovos do patrimônio entre seus três filhos havia um respeitável pé de meia: uma rede de lojas atacadistas bem conceituadas, duas concessionárias de automóveis, um posto de gasolina, um hotel, três fazendas que somam 12 mil tarefas de terra e que, juntos, geram hoje cerca de mil empregos diretos.

“Fiz isso porque notei que existe uma facilidade em cada um dos filhos para administrar um tipo de negócio. Para que um não venha a prejudicar o outro ou achar que trabalha mais do que outro. Cada um tem a sua empresa e cada um vai procurar crescer com ela, para torná-la independente”, justifica. As empresas, aliás, estão parindo futuros: dos seus herdeiros virão em breve uma grande loja de distribuição e uma engarrafadora de água mineral.

No mais, Raymundo Juliano Souto dos Santos é só contemplação e filosofia do bem-existir. “Isso aqui é uma viagem, com uma chegada e uma partida. E eu acredito que estou fazendo uma boa viagem na vida. Eu casei, minha primeira esposa, Suele Fontes Faria Souto, foi uma pessoa de quem eu gostava muito, realmente importante para minha vida, que me ajudou, não criou obstáculos para que eu viesse para Aracaju. Compreendeu o meu trabalho, que é o de ser administrador e promotor de vendas também, porque pela manhã eu trabalhava na administração e à tarde e à noite eu ia promover a cerveja para atingir a grande meta, que foi quando eu cheguei a dominar os 90% do mercado. Ela faleceu, eu fiquei viúvo e voltei a casar. Ana Maria Nascimento e eu já estamos há 25 anos juntos”, diz ele.

Vítima de uma cirurgia que não teria se processado bem, Raymundo Juliano vê hoje o mundo de cima de uma cadeira de rodas. Mas que não se busque desânimo ou lamúrias nele. Jamais faz concessão à tristeza. “De jeito nenhum. A vida continua e não é uma cadeira de rodas que me impede de ser ou estar alegre. Eu nunca fui triste. É da minha índole, da minha personalidade”, diz ele.

 

 
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