Um policial militar que pediu para não ter seu nome revelado, enviou um e-mail para a redação, onde ele faz um desabafo sobre a situação em que é exposta a corporação para realizar o trabalho diário.
Veja o que diz o e-mail:
Caros leitores, é com profundo pesar que digo fazer parte de uma Instituição de faz de contas. Nada traumático se vivêssemos em Alice no País das Maravilhas, mas não, vivemos num país com altas taxas de violência, e Sergipe, incluso neste, não é diferente, sendo o segundo estado do nordeste com maior taxa de homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Como entender a relação ESTADO OMISSO X ALTOS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA, que vão contra os anseios da sociedade? Todo e qualquer ente, seja ele Federal, Estadual ou Municipal é feito por pessoas, estou falando de gente mesmo; do maior ao menor empreendimento para o gestor ter suas metas alcançadas, irá priorizar em uma das suas vertentes, sua equipe de trabalho, e aí entende-se intrinsicamente, que as condições de trabalho estão sobremaneira ligadas.
Como esperar um policiamento eficiente para a sociedade, quando os próprios gestores do Estado não garantem tais condições mínimas à seus agentes públicos? No artigo 6º da CF/88, quando a mesma lista direitos sociais a saúde, alimentação, trabalho e segurança, após a sua redação existe a ressalva que não são direitos aplicáveis aos policiais militares? Deixamos de ser gente quando passamos em um concurso para aspirante a Oficial ou Soldado da Polícia Militar? Desafio o Ex.mo Sr. Governador, o Ex.mo Sr. Secretário de Estado da Segurança Pública, o Ex.mo Sr. Comandante da Polícia Militar de Sergipe ou qualquer autoridade pública de Sergipe Del Ray, a indicar-nos um estabelecimento comercial que os mesmos consigam fazer uma refeição (frise-se Café da manhã, Almoço ou Jantar), por míseros R$ 8,00. Peço-lhes mais, mostre-nos outra categoria dentro do próprio poder Executivo que receba tal valor por refeição.
Aproveito o ensejo e desafio, os doutos em segurança pública, que arvoram -se de debates achincalhados, desprovidos de qualquer conhecimento técnico, a virem conhecer a realidade de um policial militar, e de seus locais de trabalho, impregnados sobre maneira, de instalações insalubres. Os senhores acreditam realmente que a matéria prima de qualquer atividade laborativa, a saber o homem, quando não se sente importante, prestigiado, irá realmente dar importância a algo que faz?
Quanto ao direito social ao trabalho, e uma condição digna para exerce-lo em sua plenitude, o policial militar está vivendo uma situação jamais vista, onde tem seus vencimentos parcelados, tendo que se equilibrar na corda bamba do cheque especial, atraso de financiamento habitacional e faturas em geral. É dessa forma que segurança pública é uma prioridade?
É justo o Governo do Estado se eximir de suas responsabilidades alegando crise financeira, quando prioridades como Educação, Saúde e Segurança Pública, estão sendo preteridos por funções e/ou cargos de confianças nos mais diversos níveis da administração e outras inúmeras sangrias públicas. Senhor Governador, não pedimos muito, pedimos que nossos direitos trabalhistas sejam respeitados, como: ticket alimentação condizente com uma alimentação digna; PTS – Promoção por tempo de serviço, afinal somente o ônus de ser militar, é demasiadamente dolorido, haja visto que as cobranças e atribuições são inúmeras, pois passar 16 anos para galgar apenas uma mera promoção a Cabo, não consiste em bônus e sim desestímulo; subsídio para a categoria é um pedido de isonomia, pois todas as outras categorias funcionais do estado merecidamente já o têm, não queremos ser melhores nem especiais em detrimento a nenhuma classe, apenas termos o mesmo tratamento; locais salubres para trabalharmos; EPI – Equipamentos de Proteção Individual, afinal, é o básico do básico, por exemplo um colete individual e dentro da validade, faz toda a diferença para fazermos o que gostamos e sabemos fazer.
Faço parte de uma Instituição que preza pela Hierarquia e Disciplina, e inclusive posso ser cerceado da liberdade se tiver minha verdadeira identidade revelada, agora pasmem, porque falo a verdade, por isso vou encerrando por aqui meu breve relato, assinando apenas como: Mais um Policial Militar Desmotivado.